Duas mulheres brasileiras, fundadoras da Biopolix, foram as vencedoras da categoria CleanTech do LatamEdge 2022 trazendo uma inovação para substituir os plásticos .
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O desafio de montar uma empresa como a Biopolix em um mercado repleto de fabricantes ( transformadores) consolidados no setor de resinas de base fóssil e indústrias químicas que ainda não se adequaram aos novos tempos da sustentabilidade não é fácil, mas a oportunidade é imensa.
Os números mostram o tamanho da encrenca - somente 1% do plástico produzido no mundo é biodegradável, portanto há espaço para um grande crescimento nesse mercado que já é avaliado mundialmente em U$ 10 B. Produtos como a bioresina da Biopolix podem ser descartados em aterros sanitários normais - e não os aterros industriais que são muito poucos no Brasil - pois seu tempo de decomposição é muito rápido em comparação com os plásticos convencionais e com zero impacto na natureza devido a sua composição biopolimérica, ou seja composta por diferentes materiais de fontes renováveis tais como proteínas de soja, amidos de milho, batata, mandioca entre outros, além é claro, de biopolímeros bacterianos.
Dra Claire Tondo Vendruscolo, com 25 anos de experiência em pesquisa acadêmica na área de bioplásticos, artigos acadêmicos e científicos publicados pelo mundo afora, e sua filha, Luisa Vendruscolo, especialista em administração e gestão de empresas se dedicaram desde 2016 na estruturação da startup Biopolix com o objetivo de desenvolver soluções que permitissem reduzir a poluição atual causada pelos plásticos convencionais, substituindo-os por uma biorresina de fontes renováveis, a Biox001, para a produção de bioplásticos flexíveis e rígidos com material 100% compostável e biodegradável.
Se considerarmos que os plásticos levam cerca de 4 séculos para se decompor no meio ambiente, produzem gases tóxicos ao serem queimados e tem um processo de reciclagem difícil - já que diferentes plásticos não podem ser reciclados de forma misturada - temos a noção da importância da Biopolix no mercado.
"Nosso sonho foi o de produzir estes materiais em grande escala. Depois de 6 anos, já estamos com duas POCs com empresas de grande porte" conta Luisa.
Os primeiros passos
O início do negócio foi impulsionado por capital próprio e a participação em editais com fomento, sem equity. Foram mais de R$ 1 M em editais - com o SENAI ISI POLIMEROS desenvolveram biofilmes e com o SENAI Mario Amato SP , materiais rígidos. Em um projeto EMBRAPII a empresa criou uma colher para sorvetes totalmente compostável e biodegradável. Encubadoras como a Supera e a conquista de prêmios também foram fundamentais para o desenvolvimento estruturado da empresa.
"Estamos mais do que prontas a avançar no mercado nacional e internacional. Com o desenvolvimento e o pedido de patente da biorresina Biox001 aqui no Brasil e internacionalmente, iniciamos a busca de parceiros. As metas de redução de plásticos de fonte fóssil por indústrias de todos os setores vêm ajudando a Biopolix a divulgar a nova solução" comenta Claire.
O foco da empresa neste momento é o de ampliar seu acesso aos fabricantes que demandam bioplásticos flexíveis e rígidos e cujo foco esteja no plástico de uso único. Principalmente os que estão sendo banidos por diversos países em razão do cumprimento da agenda 2030 tais como talheres biodegradáveis, embalagens secundárias e proteções descartáveis.
"Além da biorresina, desenvolvemos um bioadesivo para ser usado por dentistas denominado BATs Bioadesivo anestésico tópico com liberação controlada para ser usado como pré-anestésico antes da anestesia por infiltração. O produto já tem patente nos Estados Unidos e no Brasil " finaliza Claire acrescentando que há, ainda, um biopolímero biodegradável, a xantana pruni, utilizado como espessante, estabilizante e modelador do escoamento e da viscosidade dos materiais. muito utilizado na indústria alimentícia, de cosméticos e com potencial de aplicação no agronegócio.
A jornada da pesquisa
Considerada uma área dura, a pesquisa demora para trazer resultados mas, quando eles aparecem, os produtos que utilizam estas tecnologias têm uma longa duração de mercado o que permite recuperar o capital investido.
Os primeiros desafios das empreendedoras foram os de ultrapassar a barreira de desenvolver os novos materiais e ter acesso a equipamentos extremamente caros, seja para as análises como para a produção. Então a primeira etapa da jornada foi a de buscar financiamento para o desenvolvimento dos materiais seguida da participação em editais ( cujo tempo é extremamente lento). "Depois tivemos que encontrar pessoal com experiência, cuidar da manutenção da startup enquanto ao mesmo tempo conversávamos com o mercado que não está seguro do que quer. Quer inovar mas não sabe exatamente no que ou não tem conhecimento do que e de quanto será o impacto do uso desses materiais no seu negócio "comenta Luisa acrescentando que explicar ao mercado o que é uma bioresina e quais as facilidades e vantagens que ela traz para o cliente final configura uma etapa longa e será contínua ao longo da nossa jornada segundo ela.
Passada esta fase, a Biopolix busca agora Investidores de grande porte ou empresas parceiras que atuam na área de plástico ou que possuam equipamentos necessários para a produção da biorresina Biox001 para então construir uma planta industrial bem como contratar pessoal experiente em extrusão – extrusora dupla-rosca e em analises de produtos biodegradáveis, com conhecimento de normas internacionais. A captação almejada está na casa de R$ 2M a R$ 5M e também servirá para ampliar sua capacidade de produzir de forma menos horizontalizada para ganhar tração e viabilizar preços mais competitivos.
"Nossa expansão internacional também é outro passo fundamental pois observamos que as decisões sobre investimento e até as regras de ESG são ditadas pelas diretorias internacionais das multinacionais. Por isso, para nós, a internacionalização é uma forma de nos aproximarmos do decisor de mudança e alavancarmos de forma mais rápida a receita e a ampliação da nossa empresa" sinaliza Luisa.
Passada esta fase, as empreendedoras acreditam que a Biopolix contribuirá de maneira significativa para a diminuição de resíduos como os plasticos que vem causando impactos negativos na flora e fauna, bem como no ser humano. Colocada a conta deste impacto negativo ao meio ambiente para as empresas, as biorresinas certamente entrarão como uma alternativa forte e positiva para o mercado e para a qualidade de vida no mundo.
O "pulo do gato" da Biopolix
"Nossa estratégia foi a de testar a biorresina dentro das indústrias atuais processadoras de plásticos convencionais e analisar os equipamentos existentes ouvindo muito os nossos clientes potenciais. Foi dessa forma que pudemos identificar as condições operacionais, as faixas de velocidade, temperatura e as demais especificações pertinentes ao processo, como fechamento das embalagens, corte etc. e desenvolver um material que pode ser escalável sem que seja necessária nenhuma adaptação de máquinário, o principal gap dos biomateriais" conta Claire sem deixar de comentar que o conhecimento acumulado de mais de 20 anos de experiencia em macromoleculas biodegradáveis capazes de formar filmes carreadores de princípios ativos com liberação controlada e o enorme conhecimento acumulado sobre bactérias e seu uso em fermentações aeróbicas fizeram toda a diferença.
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